Coronavirus
Guia para pensarmos o coronavírus (I)

A crise do coronavírus está a supor umha disrupçom tal que os esquemas habituais da esquerda nom rematam de funcionar. Para intentar orientar-se nesta incertidume, apresentamos umha pequena cartografia sobre o que está a pensar a filosofia atual por volta do Covid-19.

21 mar 2020 19:00

Afirmava Fredric Jameson, com certo pesimismo, que “é mais fácil imaginar o final do mundo do que imaginar o final do capitalismo”. Porém, após este duro golpe de realidade é mui possível que a imaginaçom comece a poder fazer-se cargo do desastre ao que nos aboca o capitalismo. Ainda temos mui poucas balizas seguras com as que orientar-nos nesta incertidume. Com o objetivo de facilitar, se nom umha bússula, quando menos umha primeira e precária cartografia, reunimos neste artigo algumhas das primeiras reflexons que fôrom realizando algumhas das mais prestigiosas pensadoras da esquerda, a fim de poder, quando menos, diagnosticar a profundidade real da crise do coronavírus e, também, as suas oportunidades. Começamos com os pensamentos agrupados ao redor do paradigma da biopolítica.

O paradigma da biopolítica

Ao intentar pensar a gestom política do coronavírus as primeiras referências disponíveis na equipagem filosófica som, com certeza, as das investigaçons de Michel Foucault e o seu conceito da biopolítica (o tipo de governo que regulamenta a populaçom através do biopoder, isto é, o poder político sobre todos os aspectos da vida). Mais em concreto Foucault desenvolvera o estudo de dous modelos de poder gerados por volta da gestom da saúde pública: o modelo da lepra, fundado na exclusom; e o modelo da pesta, fundado no controlo. Enquanto o leproso medieval era estigmatizado e expulsado fora da comunidade dos nom-leprosos para que morrera, a gestom da peste apoiava-se numha multiplicidade de estratégias individualizantes de controlo, despregando sobre a comunidade umha rede profunda de poder com muitas ramificaçons, que quadricula um espaço fechado onde os lugares era asignados funcionalmente a cada indivíduo. Isto é, é o modelo caraterístico da sociedade disciplinária. É dentro deste paradigma que Raúl Zibechi fala dum controlo maciço da populaçom na China nunca visto desde tempos do nazismo ou do estalinismo, um “gigantesco panóptico militar e sanitário” em que umha cidade como Wuhan se tornou um “enorme campo de concentraçom a céu aberto”. O pensador uruguaio sustém três teses: que as práticas de controlo elaboradas pola China neste laboratório social é mui possível que se imponham no resto do mundo, enquanto o país assiático está chamado a ser o novo hegemon mundial; que “as elites estám a usar a pandemia como laboratório de engenharia social” para a gestom de futuras crises ambientais mas, sobretudo, político-sociais; e que “os povos ainda nom sabemos como vamos enfrontar estes potentes mecanismos de controlo de grandes populaçons”.
Raúl Zibechi fala dum controlo maciço da populaçom na China nunca visto desde tempos do nazismo ou do estalinismo

Contudo, o debate mais potente que se gerou dentro deste paradigma foi o produzido em Itália, entre Giorgio Agamben e Jean-Luc Nancy. No início do surto italiano do coronavírus Giorgio Agamben apressurou-se a publicar um artigo denunciando as “frenéticas, irracionais e totalmente imotivadas medidas de emergência para umha suposta epidemia devida ao coronavírus” na Itália, que na prática suponhem a militarizaçom do país, sob um “clima de pánica” que visa justificar o estado de exceçom. Desta maneira Agamben intui a construçom dumha sorte de novo paradigma biopolítico totalitário: “Parece que, esgotado o terrorismo como causa de medidas de exceçom, a invençom de umha epidemia poda oferecer o pretexto ideal para ampliá-las além de todo limite”. A leitura do filósofo italiano foi imediata e ironicamente replicada polo seu colega Jean-Luc Nancy, quem após expor os evidencias científicas acerca do vírus, criticou o uso contínuo do paradigma do estado de exceçom que fai Agamben, quem “nom se dá conta de que a exceçom se torna, na realidade, na regra num mundo em que as interconexons técnicas de todas as espécies (movimentos, translados de todo tipo, exposiçom ou difussom de substâncias, etc.) atinge umha intensidade até agora desconhecida e que cresce com a populaçom”. Aliás, Nancy replicou que se década antes, quando padecera umha grave doença, tivesse seguido esse tipo de conselho, hoje estaria morto.

Jean-Luc Nancy criticou o uso contínuo do paradigma do estado de exceçom que fai Agamben, quem “nom se dá conta de que a exceçom se torna, na realidade, na regra num mundo em que as interconexons técnicas de todas as espécies atinge umha intensidade até agora desconhecida e que cresce com a populaçom”

Umha terceira convidada ao debate, a filósofo chilena Aïcha Liviana Messina, proporcionou umha visom muito mais enriquecedora, ao supor esta falsa antinomia entre as posturas de Agamben (quem acha na pandemia umha manobra disciplinária) e a de Nancy (para o qual a vida é indissociável da técnica) deve ser superada reconhecendo que o político se conjuga sempre com a vulnerabilidade, para pôr essa condiçom, inerente à vida humana, no centro do debate político. Messina deteta duas reaçons simétricas perante a vulnerabilidade da vida e o medo natural à mesma: o pánico democrática, que dá na submissom ao controlo; e a indiferença aristocrática, que exige umha atitude heroica. Porém, diz a chilena, as duas coincidem em nom plantejar a doença como o que é: um assunto comum. Aliás, “nom é dumha posiçom externa, heroica (um pensamento aristocrático) que nos emancipamos do poder, senom da própria vulnerabilidade da vida”. A possível virtude heurística política desta crise, para Messina, estaria em reconhecer sem vergonha o medo à morte, para poder pensar apartir de aí e nom do heroismo, outro modo de democracia no contexto da globalizaçom.

Coronavirus
Guia para pensarmos o coronavírus (II)

Continuamos coa pequena cartografia sobre o que está a pensar a filosofia atual por volta do Covid-19. Nesta coluna recolhem-se algumhas das reflexons das pensadoras mais populares entre a esquerda do mundo anglo-saxom.

Informar de un error
Es necesario tener cuenta y acceder a ella para poder hacer envíos. Regístrate. Entra na túa conta.

Relacionadas

Filosofía
Carolina Meloni “Nunca será cómodo ser una filósofa”
‘La instancia subversiva’, su último libro, analiza las bases patriarcales de la tradición filosófica nacida en la Grecia clásica y muestra lo femenino como germen de un nuevo modo de pensamiento.
Filosofía
Filosofía Cantando filosofía y bailando pensamiento crítico con Rigoberta Bandini
Es cantar desde el desasosiego, desde la alienación de una existencia dónde bailamos para que nos miren, cantamos para que nos oigan y seguimos los pasos de un baile que no es nuestro.
Filosofía
Filosofía La Idea de belleza o la belleza de una idea
De idealismos diversos y su significación en el ámbito de lo político y estético. De donde se desprende la necesidad de seguir preservando el motor de lo ideado como potencia de transformación y cambio.
#52736
25/3/2020 16:48

Pois no é que concorde eu ,moito con este descurso. Non sei a onde apunta; a alternativa ao capitalismo por todas desexada terá que contar tamén co corpo médico e sanitario e as súas recomendacions para preservar a vida antes co mercado.

1
2
#51938
23/3/2020 16:47

Moitas grazas pola interesante cartografia

9
3
#51453
22/3/2020 11:53

Falo galego todolos dias de toda a vida e menos mal que vou a miudo a Portugal, tamen dende hai moitos anos, se non non entendería nada. A miña muller Tentou de ler este texto

5
28
#51402
22/3/2020 7:52

Este home val para Ministro de Sanidade.

5
26
Alemania
Alemania Ines Schwerdtner: “Los conservadores tienen esta estrategia de normalizar la AfD, pero eso ha salido muy mal”
De profesión periodista, Ines Schwerdtner ha sido una de las responsables del ascenso de Die Linke, un partido que pasó de no aparecer en las encuestas a superar el 8% en las elecciones de febrero.
Comunidad de Madrid
Universidad pública El alumnado de la UNED denuncia el “modelo antipedagógico” tras la supresión de tutorías presenciales
El proceso de eliminación de clases se remonta a 2008, aunque ha sido este año, con el nombramiento Claudia Sevilla como directora de centros asociados de Madrid, cuando el gobierno de Ayuso “ha pisado el acelerador”.

Últimas

O Teleclube
O Teleclube 'Os Pecadores' loitan contra montruos reais e mitolóxicos no novo episodio de 'O Teleclube'
O dúo do director Ryan Coogler e o actor Michael B. Jordan estrean unha película sobre a experiencia afroamericana cunha ameaza sobrenatural engadida.
Opinión
Opinión El rentismo es racismo
La posición de las personas migrantes y racializadas en el conflicto del alquiler nos coloca como sujetos esenciales e imprescindibles en la lucha por la vivienda.
València
València Rechazada la querella por tortura contra Ramón, policía infiltrado en València
Un juzgado de València desestima el recurso presentado por Alerta Solidària contra la inadmisión de la querella criminal por torturas contra el agente que pasó dos años infiltrado.
Más noticias
El Salto Radio
el salto radio Peinando canas 2: Ganas de cantar, ganas de vivir
En el segndo capítulo de esta serie dedicada al colectivo sénior destacamos el trabajo de Irina Capriles al frente del Cor de la Universitat Oberta per a Majors de les Illes Balears.
Opinión
Opinión El apagón y la ofensiva nuclear de las derechas
El gran apagón se ha producido en medio de una auténtica guerra cultural de la derecha contra el plan de cierre de las nucleares.
Gobierno de coalición
Gobierno de coalición El PSOE se mira en el espejo de Canadá
La irrupción de un enemigo exterior poderoso como Trump ha provocado un giro rotundo en las elecciones del país norteamericano, catapultando a los progresistas tras estar al borde de una dura derrota.
Economía social y solidaria
Cooperativismo Economías tejidas por mujeres: feminismo y cooperativismo en Madrid, una genealogía por contar
La Economía Social y Solidaria feminista no ofrece fórmulas mágicas, pero sí un horizonte: uno donde lo productivo y lo reproductivo, lo económico y lo afectivo, dejen de estar enfrentados.

Recomendadas

Laboral
Laboral Coidar sen dereitos: a loita das traballadoras nas residencias privadas de Galiza
Sen tempo nin medios para ofrecer uns coidados axeitados, alertan dunha situación insostible nos centros e denuncian a privatización dun servizo a costa do benestar das persoas maiores e dependentes.
Galicia
Galicia Vigo, A Coruña e Ourense mercaron material policial a Israel por medio millón de euros en só catro anos
O alcalde ourensán, Gonzalo P. Jácome, adxudicou un contrato por 70.000 euros días despois do sete de outubro. Abel Caballero asinou outro de máis de 200.000 euros e a alcaldesa da Coruña seguiu a estela cun contrato de 170.000 euros.