Nacionalismo galego
Entre o pós-nacional e o Volksgeist

O tsunâmi feminista da última década tivo a sua réplica teórica no soberanismo galego no ensaio de Helena Miguélez-Carballeira Galiza, um povo sentimental?, que revelou as costuras da lógica nacional-patriarcal com o que se foi construindo o discurso nacionalista galego desde o século XIX. É neste sentido que podemos ler ‘Nación’, o último filme de Margarita Ledo.
Fotograma película 'Nación' de Margarita Ledo
Fotograma do filme Nación de Margarita Ledo. Imaxe cedida por Nós, Produtora Cinematográfica Galega, S.L.
2 jul 2021 08:08

Nación, o último filme de Margarita Ledo, começa com umha grande intensidade. Na apertura, umhas imagens de arquivo de umha filmaçom caseira. Vê-se gente num jogo de futebol amador no monte, talvez num monte comunal, mas a atmosfera é estranha, desconcertante. Nem parece umha simples romaria nem tampouco nada nos explica o que estamos a ver. E entom, fugaz, umha estreleira atravessa o ecrám. Agora dás-te conta de que as futebolistas som mulheres e de que as pessoas que se arremoínham por volta do terreno de jogo a olhar, som os homens e crianças. Racha-se a doxa. A imagem, poderosa, lembra inevitavelmente o jogo de hurling do início do The Wind That Shakes the Barley de Ken Loach, mas aqui, a naçom som as mulheres.

O tsunâmi feminista da última década tivo a sua réplica teórica mais importante no soberanismo galego no ensaio de Helena Miguélez-Carballeira Galiza, um povo sentimental?, que revelou com veemência as costuras da lógica nacional-patriarcal com o que se foi construindo o discurso nacionalista galego desde o século XIX. E é neste sentido que podemos ler Nación como um valioso intento de refundaçom do discurso nacionalista galego em parâmetros feministas. O magnífico cartaz-manifesto do filme, assim como a própria micro-história do título: umha trabalhadora que depois de relembrar a sua luita exclama um “tardamos-che bem em ser naçom!”, também agoirava umha apertura na conceçom da naçom: da essência ao processo, do repregue identitário defensivo ao empoderamento coletivo expansivo.

Podemos ler ‘Nación’ como um valioso intento de refundaçom do discurso nacionalista galego em parâmetros feministas

Entre um terreno mui heterogéneo, composto de performances, elementos alegóricos, digressons poéticas, etc., atravessa o filme um poderoso rio principal, que é o da história do acesso das mulheres da ria de Vigo, através da fábrica da Pontesa desde os anos 1960, a isso que Robert Castel chamava a “condiçom salarial”, passa-porte à plena cidadania que metaforiza à perfeiçom o carro Dyane 6 da imensa Nieves Lusquiños: a autonomia económica, a independência de movimentos, a camaradagem e os gintonics de depois do trabalho… As autofilmaçons obreiras no decurso das greves, mostram umhas trabalhadoras que se fam cargo da situaçom, tanto na sua dimensom organizativa quanto expressiva, e o arquivo televisivo mostra-as enfrontando-se à polícia com valentia.

Mas da expetaçom inicial do filme, dessa promesa de apertura novidosa do discurso nacionalista, vai-se passando a um repregue à zona de conforto das práticas discursivas já conhecidas. O rio torrencial vai apoçando devagarinho. Ledo nom quer cair no realismo vulgar, no registo minuciosamente histórico do conflito da Pontesa, mas talvez o filme remate vasculando pola perigosa pendente oposta, quando o simbolismo e o alegórico rematam por devorar a história, sobretudo contra o trecho final; e as reticências legítimas ao documentarismo puro (“con la mera entrevista no logras profundidad, todo es un dejà vu” https://www.caimanediciones.es/margarita-ledo-entrevista/) acabam ocultando um difuminado do protagonismo das trabalhadoras da Pontesa que pedia mais.

Atravessa o filme um poderoso rio principal, que é o da história do acesso das mulheres da ria de Vigo, através da fábrica da Pontesa desde os anos 1960, a isso que Robert Castel chamava a “condiçom salarial”

Esta inclusom das peças de interpretaçom, poéticas ou performativas, que visavam condensar o real, encaixam de maneira mui desigual no conjunto do filme. À beleza calma que reproduze e estetiza os processos de trabalho na fábrica ou no poço da rega, à potente poética quotidiana da criança que balbucia umha cantiguinha trabalhista enquanto debulha o milho ou à eletrizante banda sonora de Mercedes Peón, oponhem-se outros elementos muito mais inconexos com o conjunto, e mesmo alguns que produzem umha certa sensaçom de brecha, sobretudo entre o elenco de atrizes profissionais e as trabalhadoras. Brecha que Fichte, pai do nacionalismo alemao, via com pesimismo entre o povo em si, classes populares supostamente inconscientes da sua condiçom de portadoras das essências alemás, e o povo para si, inteletuais mui conscientes das tais essências que, porém, eles próprios já nom encarnavam. Seguramente pola sua origem de neno camponês, Fichte rematava por ter as mesmas dúvidas que Spivak: pode falar o sujeito subalterno sem a mediaçom do inteletual? Do mesmo jeito, a inclusom de um par de piscadelas metaficcionais em que Mónica de Nut se dirige às suas iguais, as espetadoras ideais, fundando umha sorte de cumplicidade fílmica precisamente sobre a exclusom das mulheres da Pontesa. Umha cumplicidade fílmica que nom fai senom acrescentar essa sensaçom de brecha que, na minha opiniom, é o que mais lastra a grande potencialidade de Nación.

Informar de un error
Es necesario tener cuenta y acceder a ella para poder hacer envíos. Regístrate. Entra na túa conta.

Relacionadas

El Salto Radio
El Salto Radio Peinando canas 3: ¡Vamos al cine!
En el tercer capítulo de esta serie dedicada al colectivo sénior destacamos el trabajo de El Parlante, entidad organizadora del festival La Gran Pantalla.
Andros
2/7/2021 14:11

Sempre teño a mesma sensación cos textos de Calvo varela: unha erudición disposta a materializarse nun texto pronto para levar un dez nunha aula de socioloxía.
Polo menos esta vez empregou puntos e aparte pero o vicio que ten coas subordinadas fan que opinión que ben pode ser interesante vire nalgo que non presta nada ler por pura incomodidade.

0
0
Medio rural
Medio rural A esperanza da xestión colectiva fronte ao espolio: os comuneiros de Tameiga contra o Celta
Mentres varios proxectos industriais tentan privatizar e destruír os ecosistemas galegos, algúns grupos de veciños e veciñas organizadas fan oposición social construíndo alternativas comunitarias. Ás veces, tamén gañan ao xigante.
Ourense
Ourense Ourense organízase para loitar contra patrullas de extrema dereita nos barrios máis empobrecidos da cidade
A veciñanza e os movementos sociais responden ao discurso do medo promovido por Frente Obrero e sinalan a súa estratexia de criminalizar a pobreza e sementar odio en contextos de exclusión e abandono institucional.
O Salto medra contigo
Crowdfunding O Salto Galiza abre un crowdfunding para empapelar Altri
Queremos investigar os responsables políticos e empresarias do que podería ser o maior atentado ambiental da historia recente de Galiza.

Últimas

O Teleclube
O Teleclube 'O Teleclube' alucina no deserto con Óliver Laxe e 'Sirat'
Laxe leva o seu cuarto premio de Cannes, esta vez en competitición, polo seu novo filme que explosiona na gran pantalla.
A Catapulta
A Catapulta O tempo, o espazo e a poesía de Estíbaliz Espinosa
A poeta visita A Catapulta para conversar sobre o seu traballo e a súa traxectoria literaria

Recomendadas

Feminismos
Feminismo Dous anos sen reparación tras sufrir lesbofobia nun Rexistro Civil de Pontevedra cando ían inscribir a seu fillo
Un funcionario negouse a inscribir ao fillo de Antía e a súa parella. Un erro de redacción na lei trans está detrás dos argumentos que o funcionario esgrime para defender a súa actuación.
Culturas
Erika Lust y Sara Torres “El deseo tiene una potencia inagotable para transformar la realidad si lo liberamos de las normas”
Sexo, deseo o ética del placer son algunos de los temas que hilan la escritora Sara Torres y la productora de cine porno Erika Lust en ‘La abundancia del deseo’.
Medio ambiente
Medio ambiente Iberdrola proxecta un parque eólico que pon en risco un dos maiores xacementos fortificados de Galiza
A Xunta vén de declarar a utilidade pública para o parque eólico Castro Valente, a pesar de que a súa construción está suspendida cautelarmente polo Tribunal Superior de Xustiza de Galicia.